Inicial > Filosofia > O Crepúsculo da Beleza: Não Existe Arte Contemporânea

O Crepúsculo da Beleza: Não Existe Arte Contemporânea

Aquela abominação patrocinada pelo Santander em 2017 chamada Queermuseu me incomodou. Zoofilia, pedofilia e ataques ao cristianismo foram apresentadas como autênticas expressões artísticas. Excursões escolares foram organizadas para expor as crianças àquelas monstruosidades “culturais” no horário em que deveriam estar estudando as matérias básicas. Além disso, utilizaram a Lei Rouanet, que é uma forma que o Estado, nesse caso por meio do Ministério da Cultura, utiliza para transferir a renda dos pobres para os ricos e para os amigos do próprio Estado, para custear algo que a maioria da população – que de fato é quem paga a conta – discorda. Grupos com vieses conservadores nos costumes e liberais na economia se manifestaram contra a exposição e promoveram boicotes, o que é permitido em democracias, mas foram tachados de autoritários e homofóbicos por pessoas que participavam ou que apoiavam a exposição. A grande mídia atacou aqueles grupos contando apenas um lado da história sob as lentes de linhas editoriais marcadamente ideológicas. Isso acendeu em mim um sinal de alerta, pois essas reações autoritárias e acusações injustas e mentirosas sempre partem da mesma turma podre: os socialistas.

Nos últimos tempos tenho refletido sobre o que é arte e se é possível defini-la de forma objetiva, pois aparentemente quaisquer pichações ou cartazes colados em postes são tidos como manifestações artísticas. Isso explicaria os relinchos que se ouviam quando o então prefeito de São Paulo, João Dória, cobriu com tinta cinza as “manifestações culturais” que poluíam os viadutos da Avenida Vinte e Três de Maio, importante via de ligação entre as zonas Norte e Sul da cidade. Curiosamente, uma parede pintada de cinza poderia ser considerada uma obra de arte pelos padrões atuais – veja aí o duplipensamento descrito no livro 1984, de George Orwell. A pesquisa que fiz indica que aparentemente não é possível definir arte, mas adiantando minhas conclusões, a palavra “arte” foi sequestrada por pseudo-artistas alinhados com as pautas de esquerda. Hoje, uma lata cheia de excrementos humanos é vista (ou cheirada) como uma obra de arte apenas porque o “artista” (ou cagão) disse que aquilo era arte e alguém acreditou.

Por que os socialistas precisam impôr a visão de mundo deles à sociedade? Como eles estão desconectados da realidade, é necessário que dominem a narrativa utilizando de mentiras e distorções históricas para ocuparem o Estado aos poucos em uma revolução cautelosa. Isso é parte do Marxismo Cultural criado por Antonio Gramsci – menos sangue nas mãos, mas a mesma sede de poder. Será que é necessária uma estrutura estatal tão inchada que comporte até questões relacionadas à produção artística? Sem uma estrutura estatal do porte da que temos, a ânsia totalitária desses indivíduos diminuiria. Será que é necessário existir um Ministério da Cultura para zelar por nosso patrimônio cultural (somatório de conhecimentos, artes, crenças, leis, valores morais, costumes e hábitos)?

Uma das coisas notáveis nas obras contemporâneas é a perda de uma qualidade importantíssima que até meados do século XIX motivava os esforços dos artistas em se superarem e irem além de seus antecessores: o belo ou a perfeição estética. Por isso, nesse artigo, para entender aquilo que se perdeu, vou apresentar possíveis definições de arte que servirão de base para a análise que farei, mas vou me alongar no chamado “belo” que se manifesta das mais diferentes formas nos diferentes segmentos cobertos por esse termo guarda-chuva que designamos arte.

Por que a Beleza Importa?

‘Beleza é verdade, verdade é beleza’ – isto é tudo o que conheceis sobre a Terra, e é tudo o que precisais conhecer

John Keats

Não tenho formação em arte, mas gosto de música clássica, quadros, esculturas e romances. Sempre estive convicto de que aquilo era arte embora não soubesse explicar o porquê – era apenas algo que me agradava. Tenho certeza que você, que provavelmente não tem formação artística, é capaz de observar a Mona Lisa, de Leonardo DaVinci, o teto da Capela Sistina, pintada por Michelangelo, ouvir As Quatro Estações, de Vivaldi, ou ainda assistir O Lago dos Cisnes conduzido pelo Bolshoi ou pelo Royal Ballet ao som de Tchaikovsky e acreditar que se tratam de autênticas obras de arte.

Faça uma experiência mental: imagine-se fora do planeta Terra por, digamos, cem anos. Quando voltar, verifique o que as pessoas do futuro estão chamando de arte. Não se surpreenda se o lixo que alguns chamavam de arte no início do século XXI tiver desaparecido e se algum novo tipo de lixo passar a ser chamado de arte. Porém, é óbvio, o que a cultura clássica produziu até antes do século XIX ainda será chamado de arte e continuará a ter valor inestimável por mais alguns milênios. Se a raça humana desaparecesse, daqui a mil anos as únicas construções que permaneceriam de pé seriam as Pirâmides do Egito e a Muralha da China, pois foram feitas para durar e não para atender à alguma demanda pontual – “gourmetização” da arquitetura. Será que a verdadeira obra de arte é necessariamente uma coisa antiga que tenha que ser propositalmente legada para a posteridade? Para ser chamado de obra, o objeto deve ser algo acabado e não por fazer, o que nos remete ao ponto em que a obra teve seu último “retoque”, vamos dizer assim, independente de quando foi, mas para que aquele objeto seja chamado de arte, a história é muito mais complexa.

Chamo arquitetura de música congelada

Johann Wolfgang von Goethe

Uma solução que preserva a forma plástica sob todos os seus aspectos, quaisquer que sejam as dificuldades possíveis, porque ele (o arquiteto Oscar Niemeyer) tem, como eu, a certeza de que para se transformar em uma obra de arte, a arquitetura deve, antes de mais nada, ser bela e marcada de um espírito criador.

Joaquim Maria Moreira Cardozo

Os grandes mestres do passado produziram obras que nos inspiraram, nos elevaram e nos causaram introspecção [3]. Eles aprimoravam os trabalhos dos mestres que os antecediam e cobravam de si mesmos os mais altos padrões de excelência. O homem herda do homem, o que explica a melhoria dos padrões estéticos de uma geração de artistas para a outra, mas a eterna busca pela perfeição nas mais diferentes áreas ao longo de milhares de anos nos induz a pensar que o espírito – ou algum tipo de essência do ser – herda do espírito e este tenta reproduzir, com materiais grosseiros, a essência divina da qual se origina.

A pintura é uma poesia que vemos em vez de sentir; a poesia é uma pintura que sentimos em vez de ver

Leonardo da Vinci

Essa busca rigorosa pela melhoria contínua foi válida até alguns milésimos de segundo atrás no calendário cósmico. No final do século XIX, o profundo, o inspirador e o belo foram substituídos pelo “novo”, pelo “diferente” e pelo feio. Hoje, as pessoas aplaudem tudo aquilo que é horrível e ofensivo como se fosse o melhor da arte – quanto mais grotesco, melhor. Causar impacto é o único objetivo, porém, perder a preocupação com a beleza pode significar a perda do significado da própria existência segundo o filósofo Roger Scruton [7]. Para ele, a preocupação com a beleza na arte, na arquitetura e na música é o remédio para o sofrimento humano. Os artistas que viraram as costas para a beleza e passaram a cultuar a feiura nos conduziram a uma espécie de deserto espiritual. Um dos grandes responsáveis pela subversão dos valores ocidentais foi Marcel Duchamp, que em 1917 expôs sua “obra-prima”, “A Fonte”, que era um urinol assinado “R. Mutt”, que é o nome do dono da fábrica daquele urinol. De forma muito espirituosa, Scruton afirma que os críticos têm medo de dizerem o que qualquer criança diria ao se deparar com algo ridiculamente óbvio: “o rei está nú!”. Por que Duchamp influenciou de forma tão dramática a geração seguinte de artistas? Porque ele introduziu a ideia de que arte, para ser produzida, não demandaria criatividade, técnica, talento e nem precisaria imitar algo da natureza ou expressar algum sentimento embora o nojo e a tristeza frente à arte contemporânea sejam reações compreensíveis dos observadores ainda que não tenham sido previstas pelo “artista”. Esses novos artistas se esqueceram de que temos necessidades espirituais e não se importam que o alimento para a alma é tão importante quanto o alimento para o corpo, pois é assim que nos desprendemos de nossas angústias e elevamos nosso padrão vibratório como diriam os espiritualistas.

As coisas belas são unas: elas tem um aspecto de integração das partes, mas é uma integração tão perfeita que gera um todo indissociável; elas geram uma pegada da unidade no meio da multiplicidade. A vida busca integrar as partes para expressar a ideia, mas quanto mais ela integra essas partes, mais ela expressa o ideal de Deus.

Lúcia Helena Galvão

Ou seja, a harmonia consonante das coisas (cores, formas, etc) é o que podemos chamar de beleza. A dissonância é o que podemos chamar de feiura. A harmonia não está apenas na superfície das coisas. É necessário entendê-la mais a fundo, pois a beleza transcende o aspecto estético. Sendo assim, a beleza também está associada à verdade, ao conhecimento.

Figura 1 – Nascimento de Vênus – Sandro Botticelli

De acordo com o mito de Gaia e Urano, o Deus Urano foi castrado por seu filho mais novo, o titã Cronos, e seu órgão genital foi atirado ao mar. Desse mar salpicado pelo sangue de um Deus vem uma espuma extremamente fértil que ainda tem resquícios da divindade. Da matéria representada pelas ondas do mar surge Vênus, a deusa do amor, inserida em uma concha tal como uma pérola. A pérola em relação à concha é uma representação simbólica da alma. À direita, apresenta-se Flora, que é uma Hora (deusa das estações). Flora vem com uma capa para cobrir Vênus, pois no mundo em que a Deusa estava ingressando, o pudor era necessário. O simbolismo nos diz que a alma não se mostra por completo. À esquerda vemos Zéfiro, o vento do Oeste, acompanhado pela ninfa Clóris, representando todas as leis da natureza que fazem todos os ciclos acontecerem. Ele é o agente natural que faz com que a alma ingresse na existência; ele faz com que as coisas aconteçam. O quadro representa, de certa forma, o nosso nascimento e os elementos que nos constituem ou nos quais estamos imersos.

O primeiro ensaio de ruptura com nosso passado glorioso se deu com os impressionistas do final do século XIX. Eles não abandonaram completamente algum tipo de estilo, mas abriram precedentes perigosos que foram consolidados nas gerações seguintes. Dali em diante e até hoje, “a beleza está nos olhos de quem vê”. A arte se reduziu a uma expressão pessoal de cada “artista” e já não era mais possível estabelecer um critério objetivo para avaliá-la. Na verdade, sem padrões, sequer podemos dizer se algo é bom ou ruim. Se não há mais um critério, quem vai dizer o que é bom ou ruim é a professora Katherine Watson, que conhecemos em O Sorriso de Monalisa, um filme de 2003 [8]. Naquele filme, a adorável professora destruiu milênios de evolução da arte que estavam fortemente enraizados em suas alunas conservadoras afirmando que qualquer lixo, como um pedaço de carne ou um rabisco infantil, poderiam ser chamados de arte. Um possível contra-ponto para esse filme é Caçadores de Obras-Primas, um filme de 2014 baseado em fatos reais que mostra um grupo de acadêmicos e pessoas que de alguma forma estavam ligadas à arte arriscando suas vidas ao se enveredarem em regiões ocupadas por nazistas durante a Segunda Guerra para protegerem alguns dos maiores feitos da humanidade: obras de arte. Valeria a pena arriscar sequer perder o ônibus para salvar uma lata cheia de fezes ou o penico de “Debochamp”? Se você investiu centenas de milhares de dólares em fezes, faz sentido querer proteger seu investimento, mas isso só mostraria ao mundo o tipo de investidor que você é.

Figura 2Merde d’Artiste – Piero Manzoni

Arte, como um sonho, te leva para além de onde você está; é como tentáculos tateando o desconhecido. O próprio artista, enquanto está criando, é levado para além de onde ele está, pois mesmo que ele tenha feito um planejamento inicial do que pretendia produzir, a criatividade o conduz para além de onde pretendia ir. Isso é válido para a pintura, para a música, para o cinema e onde quer que obras de arte possam se manifestar.

Jordan Peterson

O professor Robert Florczk propõe [3] que sejamos intelectualmente honestos para avaliar uma obra de arte. No exemplo dele, especialistas julgam uma competição de patinação artística. Há vários critérios objetivos e documentados que são utilizados para analisar os desempenhos e determinar qual foi a melhor apresentação. Não seria justo para aquele que se apresentou melhor se um dos competidores, ao invés de se apresentar, se atirasse ao gelo e exigisse as mesmas notas do primeiro – igualdade de resultados ao invés de igualdade de oportunidades. Tratar com igualdade os desiguais, desde que fora do império das leis nas sociedades democráticas, tira nossa vontade de melhorar e superar nossos limites. Isso é análogo àquelas gincanas nas quais crianças participam e todas ganham medalhas apenas por participarem independente de quem foi o vencedor. Como agora é politicamente incorreto e até uma barbaridade permitir que uma criança fique triste, os professores se acham educadores e usurpam o papel dos pais. As escolas tiram uma chance que os pais têm para abraçarem e conversarem com o filho que perdeu na gincana e mostrarem a ele onde ele errou, onde o colega acertou e que ele não deve desistir por causa de uma derrota, pois ela é o caminho que pavimentará muitas vitórias. Os pais devem ensinar os filhos a serem fortes enquanto os professores deveriam se preocupar apenas em ensinar matemática, português, geografia e etc. Se os professores forem ensinar algum sistema político e econômico, como o socialismo, necessariamente deveriam ensinar, com a mesma profundidade e sem bandeiras partidárias, o contraditório, como o capitalismo e o liberalismo. É por isso que a aprovação do projeto Escola Sem Partido se faz necessária e até urgente.

A Filosofia da Arte

Para entender o papel da beleza em uma produção artística, não é necessário que entremos nos detalhes de cada movimento artístico, como o Impressionismo, o Futurismo e o Dadaísmo. Precisamos estudar a chamada Filosofia da Arte ou Estética.

A Estética é uma das disciplinas da filosofia: é o estudo dos conceitos que definem o que é o belo e os sentimentos que ele provoca no ser humano [8]. A estética começou como a teoria do belo, depois passou a ser entendida como a teoria do gosto e atualmente é tratada como a filosofia da arte. O objeto de interesse da filosofia da arte é a obra de arte e o problema que seus conceitos nos ajudam a entender é a definição de arte ou de obra de arte.

O belo é aquilo que agrada, satisfaz e emociona os nossos sentidos; é aquilo que consegue corresponder plenamente à sua proposta artística. Estilo é a semelhança de características num conjunto de obras de vários artistas de um mesmo período histórico. O parnasianismo, por exemplo, era um movimento literário que agrupava escritores que atuavam dentro de uma determinada estética. Mesmo entendendo o que é uma obra de arte, ainda assim é difícil conceituá-la. A natureza da arte e o que é o belo já eram questões discutidas pelos filósofos gregos do período clássico. Será que é possível elencar uma série de características objetivas que nos permitam definir arte?

As Teorias Não-Essencialistas da Arte propõe-se a mostrar que não é possível definir arte através de um conjunto de características intrínsecas:

  • Teoria da Indefinibilidade da Arte: propõe que mudemos o foco para a pergunta meta-estética de saber se a questão “o que é arte?” faz sentido [10]. Para essa teoria, a arte não pode ser definida. Isso não ocorre devido a impossibilidade de acomodar debaixo da mesma definição objetos diversos, mas sim por uma impossibilidade lógica derivada do termo “obra de arte”, pois como obra de arte é um conceito aberto de acordo com essa teoria, sempre surgirão novos casos e situações que forçarão adaptações nas definições estabelecidas. Dessa forma, arte como um conceito fechado excluiria a criatividade do artista;
  • Teoria Institucional da Arte: para essa teoria, “uma obra de arte, no sentido classificativo, é um artefato sobre um conjunto de aspectos do qual foi conferido o estatuto de candidato para apreciação por uma pessoa ou pessoas atuando em nome de uma certa instituição social (o mundo-da-arte)”. Ou seja, uma vez que esta definição é dada em termos de condições necessárias e suficientes, um objeto é considerado uma obra de arte se e somente se atende àquelas duas condições.

As Teorias Essencialistas da Arte definem arte com base em uma série de características que elas tenham em comum – uma espécie de “essência da arte”. Nesse artigo vamos tratar com mais interesse dessas teorias, pois elas nos apresentam algo palpável para discutir. Essas teorias dividem-se em: Teoria da Arte Como Imitação, Teoria da Arte como Expressão e Teoria da Arte como Forma Significante.

Teoria da Arte Como Imitação

Para a Teoria da Arte como Imitação, uma obra de arte necessariamente é produzida pelo homem e imita algo da realidade. Se considerarmos apenas a primeira condição, que é o da produção pelo homem, você poderia declarar que uma pedra de 340 toneladas retirada da natureza em estado bruto [3] e instalada em algum lugar específico para lhe conferir “identidade” – no caso a entrada do Museu de Los Angeles – é uma obra de arte. Uma chapa de metal enferrujada [2] de algumas centenas de metros exposta à céu aberto em Nova Iorque também poderia ser considerada uma obra de arte. Isso motivou Andy Rooney, entrevistado do Sixty Minutes, a questionar a necessidade de preencher todo espaço público com alguma coisa [2]. Porém, a pedra e a chapa de metal não atendem à segunda condição, que é a de imitar algo. A exposição Corpos Humanos, que passou pelo Brasil faz algum tempo, em princípio não imita algo da natureza uma vez que apenas apresenta cadáveres fazendo piruetas.

Figura 3 – A Última Ceia – Leonardo da Vinci

Para Platão [9], as obras de arte, levando em conta a imitação, eram imagens imperfeitas dos seus originais que por sua vez eram cópias de seres ainda mais perfeitos – mundo das idéias. Para Aristóteles, as imitações não eram cópias, mas sim meios para a depuração das emoções de quem as contemplava.

Os pontos fortes dessa teoria são:

1. O próprio fato de imitar algo da natureza, o que qualquer pessoa pode identificar rapidamente

2. Estabelecer um critério de classificação das obras de arte

A Teoria da Arte como Imitação capta imagens, esculturas e coisas palpáveis, pois excita o sentido da visão e do tato, mas e a música clássica? Todos concordamos que Bach, Mozart, Vivaldi, Chopin e Lizt eram mestres compositores, mas a arte deles não poderia ser captada por essa teoria – pelo menos não da forma que expusemos. É por isso que essa teoria foi flexibilizada: imitação cedeu lugar à representação. Agora, podemos dizer que uma música clássica pode representar algo da natureza, como a sensação de viver no campo, por exemplo.

Teoria da Arte como Expressão

O romantismo surgiu em um mundo racionalista provavelmente como uma forma de redenção da consciência humana. Os filósofos e artistas desse período propuseram uma mudança de foco da obra para o artista ou criador que era quem detinha a chave para a compreensão da obra. As obras de Escher e Charles Sanders Pierce não imitam e sequer representam algo da natureza, mas despertam certas emoções no observador. Se a arte provoca emoções, é porque essas emoções existiam em seu criador e a obra é apenas um meio para comunicá-las. Para poder classificar a obra como arte, é necessário ver além das pinceladas e assumir que ela expressa sentimentos e emoções do artista. Daí, nasce a Teoria da Arte como Expressão. Isso faz sentido, pois é a emoção que motiva o artista a manifestar para o exterior aquilo que ele armazena em seu interior.

Figura 4 – Ponte Sobre um Lagoa de Lírios d’Água – Claude Monet

Figura 5 – Múltiplos Pontos de Vista e Escadas Impossíveis – M. S. Escher

Os pontos fortes dessa teoria são:

1. Estabelecer um critério de classificação para obras que não imitam e nem representam algo da realidade

2. Estabelecer um critério de valoração das obras de arte: uma boa obra de arte é aquela que melhor exprime os sentimentos do artista.

Teoria da Arte como Forma Significante

Muitas vezes, os artistas sequer têm a pretensão de expressar algo em suas obras. Nas expedições científicas realizadas pelos europeus à África em séculos passados, os cientistas e artistas representavam aquilo que viam praticamente como um retrato jornalístico para a posteridade. Não havia a pretensão de expressar emoções, mas é inegável que eram manifestações artísticas.

Figura 6 – A Persistência da Memória – Salvador Dalí

Com a mudança de foco da obra para o observador, a obra de arte passa a ser definida pela emoção despertada no sujeito que a aprecia. Assim, nasce a Teoria da Arte como Forma Significante (Teoria Formalista ou Teoria Estético-Psicológica) que afirma que algo é uma obra de arte se, e somente se, é capaz de provocar emoções estéticas nos observadores. Agora, a obra de arte deve ter algumas características intrínsecas capazes de despertar tais emoções. Essas características ou propriedades que despertam emoções (oferecem experiências para o expectador) são as formas significantes. Mais especificamente, uma forma significante é uma combinação de linhas e cores capazes de despertar emoções estéticas.

Aparentemente, a arte não trata da vida, mesmo quando parece tratar. O observador só precisa ter um sentido da forma, da cor e do espaço tridimensional para apreciar a obra. Perceba que começamos a entrar em um mundo abstrato que torna a arte mais difícil de qualificar e por conseguinte de mensurar. Essa teoria abre as portas para as teorias não essencialistas que nos conduziram ao deserto espiritual do qual tratava Scruton.

Você escreve sobre minha flor como se eu pensasse e visse o que você pensa e vê

Georgia O’Keeffe

Discussão

Quando nos defrontamos com a arte contemporânea, chegamos ao limite do que nossa intuição consegue identificar como sendo arte. A arte contemporânea pode ser compreendida unicamente pelos conceitos envolvidos. Sendo assim, a arte não mais imita algo da natureza, não expressa as emoções do artista e nem desperta emoções estéticas nos observadores. Causar impacto, chocar, custe o que custar, é a chave para o que esse tipo de “arte” pretende.

Para algumas pessoas, tudo é cultura. Elas acreditam que apreciar música clássica e escutar funk, que mais parece o barulho da briga de orangotangos machos no cio, é a mesma coisa, mas entenda que nivelar as coisas por baixo é a verdadeira arte dos ressentidos. Arte não é cultura, pois cultura necessariamente é algo que se repete – obras de arte não se repetem. Por outro lado, as manifestações artísticas estão imersas na cultura de um povo. Podemos dizer que existem alta cultura e baixa cultura. A arte que ainda retém o belo como qualidade está dentro da alta cultura. Nesse patamar, toda a manifestação artística, independente da forma, é a expressão de um ser tentando se equiparar aquilo que ele sente que é sua origem. A arte eleva o indivíduo e mostra do que um pensamento livre é capaz [4].

A arte é a mais intensa forma de individualismo conhecida.

Oscar Wilde

Os socialistas odeiam tudo aquilo que inspira liberdade e individualismo. Eles querem que você seja um fraco para ser dependente das coletividades. Para isso, nivelam todos por baixo – o pior de todos dita o ritmo – e combatem as individualidades. Para destruir a arte, para destruir o indivíduo, o ser humano livre, basta pegar algum tipo de lixo, algo podre, como o funk, e tachar aquilo de arte. Assim, você afasta as pessoas descentes da música, evita que música boa seja produzida e quebra a fé que as pessoas têm na humanidade e a fé do homem por ele mesmo. Por que a esquerda faz isso? Pessoas fracas são facilmente controladas. Pessoas que não acreditam em si mesmas e que não têm esperança ou meta não acumulam conhecimentos e não tentam ser cada vez melhores. Assim, elas acabam sendo facilmente convencidas a aceitar os coletivos, as tiranias totalitárias e toda a pregação vermelha.

Tolher as liberdades individuais é apenas um dos objetivos da doutrina socialista. O combate ao livre mercado e aos demais valores caros ao capitalismo são as bandeiras mais conhecidas daqueles fanáticos, mas nos últimos anos também ganhou espaço o politicamente correto, aquele câncer que vem destruindo aos poucos nossa sociedade nos fazendo até ter medo de contar piadas e a ideologia de gênero, aquela falácia que assume que o gênero da criança é uma construção social. É desse caldo ideológico que a chamada arte contemporânea se nutre, mas ela também retroalimenta essa sopa com seus próprios ingredientes para que ela fique ainda mais indigesta.

Subordinar a visão artística aos padrões ideológicos é colocar a carroça na frente dos bois, o que é um pecado mortal para a criatividade uma vez que subordina-se o maior ao menor.

Jordan Peterson

Segundo Kant, nos conectamos a tudo aquilo que está de acordo com nossas inclinações boas ou más. Há uma conexão entre a admiração pelo belo e a inteligência e também há uma fronteira que separa a arte da escatologia, mas só depende de você decidir em que direção caminhará, pois colherá aquilo que plantará. Se você gasta tempo consumindo e compartilhando o lixo que vem das mídias sociais, por exemplo, estará naturalmente se encaminhado para o boeiro onde está tudo que você é capaz de entender em virtude da falta de conhecimentos úteis que detém. Se você lê bons livros, escuta música clássica e ocupa o tempo ocioso estudando, por exemplo, tenderá naturalmente a preferir coisas belas e intelectualmente mais desafiadoras, pois quanto mais utilizamos nosso intelecto e nossa vontade de melhorar, mais bela fica nossa alma e mais conectados à beleza ficamos.

A evolução nada mais é do que a depuração do gosto

Sri Ram

Figura 7 – A Percepção da Arte de Acordo com Nossas Escolhas

Conclusão

Infelizmente, não é mais possível definir arte e isso interessa a um certo grupo ideológico pelos motivos que discuti anteriormente. Não é necessário combater a chamada “arte contemporânea” diretamente, pois você vai perder uma vez que ela está fortemente enraizada em nossa cultura e além disso você sempre terá um tio, um primo ou um amigo que terá um pé na lata de fezes e um dedo onde o sol não bate fazendo a performance “Macaquinhos”, que foi patrocinada pelo SESC. Já que a esquerda roubou a palavra “arte”, que fique com ela, mas você deve continuar estudando, se aprimorando, apreciando a boa música e contemplando aquilo que é verdadeiramente belo e que te torna uma pessoa melhor, ou seja, faça tudo aquilo que os artistas contemporâneos não têm vontade e nem capacidade intelectual de fazer para não precisarem abandonar suas bolhas elitistas e nem a mamata estatal. Tenha em mente que é sua obrigação passar esses valores para a próxima geração.

Um inimigo mais forte se combate indiretamente como diria Sun Tzu. Use sua inteligência, haja pacientemente e mantenha sua integridade. Não compre lixo, não compartilhe porcaria, não acesse redes sociais, não assista televisão, não valorize, não vá e não leve seus filhos às exposições ofensivas que tornam os observadores piores do que estavam antes de vê-las. Se você ignorar esses autointitulados artistas, eles serão obrigados a se aprimorarem e criarem obras realmente relevantes para um público mais erudito para poderem continuar sobrevivendo da arte. Ou, o que é mais provável, eles se voltarão para o Estado em busca de auxílio, o que significa nosso dinheiro patrocinando lixo. No final, galerias de arte, estúdios cinematográficos e gravadoras são negócios: se o produto não vende, a empresa tem prejuízo. Se a empresa acumula prejuízos, ela quebra e é substituída por outra mais competitiva de acordo com a lei do livre mercado, que se aplica às obras de arte e às batatas.

Referências

1. SCIFILO. Problema da Definição da Arte (Parte I). Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=MN2lzu8KSPw]. Acesso em: 23 ago. 2018.

2. DIREITA, Tradutores de. Quando isso se sornou Arte? Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=-GbzBUGz3bk]. Acesso em: 26 ago. 2018.

3. _____________________. Por Que Arte Moderna é tão Ruim – PragerU. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=7gTPmf8rTQs]. Acesso em: 26 ago. 2018.

4. _____________________. Por que a esquerda quer DESTRUIR a Arte. Disponível em: [https://youtu.be/Adv-u7SXaVo]. Acesso em: 26 ago. 2018.

5. _____________________. Jordan Peterson sobre a Disney e a Arte Narrativa. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=lTEn7CNRCr4]. Acesso em: 26 ago. 2018.

6. KURZGESAGT, In a Nutshell. Por Que Coisas Bonitas nos Fazem Felizes – A Beleza Explicada. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=-O5kNPlUV7w]. Acesso em 28 out. 2018.

7. CANELLA, Alvaro. Why Beauty Matters (Por que a beleza importa?) Roger Scruton. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=bHw4MMEnmpc]. Acesso em 28 out. 2018.

8. CASA, Tudo em. literatura – AULA 01 – ARTE: CONCEITOS, DEFINIÇÕES E MANIFESTAÇÕES. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=yw8eySPJa2k]. Acesso em 28 out. 2018.

9. SLIDESHARE. Teorias estéticas. Disponível em: [https://pt.slideshare.net/espanto.info/teorias-esteticas-48482718]. Acesso em 1 nov. 2018.

10. TEIXEIRA, Célia. Disputas acerca da arte. Disponível em: [http://alfredo-braga.pro.br/ensaios/disputaemarte.html]. Acesso em 13 nov. 2018.

11. PENSI. PENSI – História da Arte – Arte Moderna. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=91aSFUYq-qA]. Acesso em 30 nov. 2018.

12. PELUSO, RENATA. Série Arte no Renascimento: O simbolismo na obra de SANDRO BOTTICELLI. NOVA ACRÓPOLE – Escola Internacional de Filosofia. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=NADwMXIfWSk]. Acesso em 30 nov. 2018.

13. GALVÃO, Lúcia Helena. Por que a Beleza importa? – Parte 01.
NOVA ACRÓPOLE – Escola Internacional de Filosofia. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=szFpezm_yAU]. Acesso em 30 nov. 2018.

14. ______. Por que a Beleza importa? – Parte 02.
NOVA ACRÓPOLE – Escola Internacional de Filosofia. Disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=aCFWVkgFuEo]. Acesso em 30 nov. 2018.

  1. EDUARDO BRAGA
    22/07/2019 às 6:43 PM

    Você libertou a minha mente. Obrigado.

  2. Ronaldo Tavares Gomes
    07/11/2020 às 4:32 PM

    Excelente texto! Argumentos muito pertinazes…

  1. 07/02/2019 às 5:06 AM
  2. 01/07/2019 às 8:37 AM

Deixe um comentário